sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Escuta amorosa da Palavra

Confira o artigo de Dom Moacir Silva publicado no Jornal Expressão de Setembro.

O mês de setembro é chamado, no Brasil, o mês da Bíblia, portanto, um mês dedicado especialmente à Palavra de Deus. Em outubro de 2008, aconteceu em Roma a XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema: “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Na abertura deste Sínodo, na homilia, o Santo Padre Bento XVI, dizia: “Somente a Palavra de Deus pode transformar profundamente o coração do homem, e por isso é importante que com ela entrem numa intimidade cada vez maior os fiéis individualmente e as comunidades”. Aqui está uma grande e profunda motivação para vivermos o mês da Bíblia e prosseguirmos nossa caminhada de discípulos missionários de Jesus Cristo, na Igreja e no mundo.
A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. A Igreja tem consciência clara de que “alimentar-se da Palavra de Deus é para ela tarefa primária e fundamental. Com efeito, se o anúncio do Evangelho constitui a sua razão de ser e a sua missão, é indispensável que a Igreja conheça e viva aquilo que anuncia, para que a sua pregação seja credível, não obstante as debilidades e as pobrezas dos homens que a compõem” (idem). A Igreja somos nós, a comunidade dos filhos e filhas de Deus; portanto, alimentar-se da Palavra de Deus é tarefa primária e fundamental para todos e cada um de nós. Hoje mais do que nunca, temos a necessidade “de uma escuta mais íntima de Deus, de um conhecimento mais verdadeiro da sua Palavra de salvação; de uma partilha mais sincera da fé que se alimenta constantemente na mesa da Palavra divina” (Bento XVI, no encerramento do Sínodo). Somente assim viveremos nosso compromisso de prosseguirmos nossa caminhada de discípulos missionários.
Os Padres Sinodais aprovaram uma Mensagem do Sínodo dos Bispos; nesta mensagem eles propõem “uma viagem espiritual, que se realizará em quatro etapas e que, do eterno de Deus, nos levará até às nossas casas e ao longo das ruas de nossas cidades”.
Na primeira etapa temos A voz da Palavra: a Revelação. O livro de Deuteronômio afirma: “O Senhor falou-vos do meio do fogo: vós ouvistes o som das suas palavras, mas não vistes qualquer figura. Era somente uma voz” (Dt 4,12). É Moisés que fala, evocando a experiência vivida por Israel na áspera solidão do deserto do Sinai. O Senhor tinha se apresentado não como uma imagem ou uma efígie ou uma estátua semelhante ao bezerro de ouro, mas com “o som das palavras”. Trata-se de um som que tinha entrado em cena nos próprios primórdios da criação, quando rompera o silêncio do nada: “No princípio... Deus disse: Que se faça a luz! E a luz fez-se...” (Gn 1). A criação nasce de uma palavra que vence o nada e cria o ser.
Na segunda etapa temos O rosto da Palavra: Jesus Cristo. Com o mistério da Encarnação “a Palavra eterna e divina entra no espaço e no tempo, assumindo um rosto e uma identidade humana, a tal ponto que é possível aproximar-se da mesma diretamente e pedir, como fez aquele grupo de gregos presentes em Jerusalém: Queremos ver Jesus (cf Jo 12, 20-21) [...] Cristo é ‘o Verbo que está junto de Deus e que é Deus’, é ‘a imagem do Deus invisível, gerado antes de toda criatura’ (Cl 1, 15); mas é também Jesus de Nazaré, que caminha pelas estradas de uma província marginal do império romano, que fala uma língua local, que revela as características de um povo, o judeu, e da sua cultura. Por conseguinte, o Jesus Cristo real é carne frágil e mortal, é história e humanidade, mas é também glória, divindade e mistério: Aquele que nos revelou o Deus, que ninguém jamais viu [cf Jo 1, 18]” (Mensagem, 4).
Na terceira etapa temos A casa da Palavra: a Igreja. No Novo Testamento a Palavra de Deus também dispõe de uma sua morada: “é a Igreja, que haure o seu modelo da comunidade-mãe de Jerusalém, a Igreja fundada sobre Pedro e sobre os Apóstolos, e que hoje, através dos bispos com o sucessor de Pedro, continua a ser sentinela, anunciadora e intérprete da palavra [cf LG, 13]. Nos Atos dos Apóstolos [2, 42], Lucas traça a sua arquitetura, fundamentada sobre quatro colunas ideais: ‘Eram perseverantes no ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (Mensagem, 6).
Na quarta etapa temos Os caminhos da Palavra: a Missão. Cristo ressuscitado lança aos Apóstolos receosos a saírem dos confins do seu horizonte protegido: “Ide e fazei discípulos de todas as nações... ensinando-as a observar tudo quanto vos tenho mandado” (Mt 28, 19-20). A Bíblia está inteiramente imbuída de apelos a ‘não calar’, a ‘clamar com força’, a ‘anunciar a palavra oportuna e inoportunamente’, a ser sentinela que rompe o silêncio da indiferença (cf Mensagem, 10e). Como discípulos missionários de Jesus Cristo temos a missão de fazer com que Palavra Deus percorrendo seu o caminho atinja o coração das pessoas. Para isso precisamos da escuta amorosa da Palavra de Deus e que esta escuta se traduza em gestos de amor. Façamos silêncio para ouvir eficazmente a palavra do Senhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário